Idade Media

O Caminho do Marão.

Na Idade Média, o caminho do Marão teve uma grande importância para o comércio entre o litoral e o interior transmontano, nomeadamente para o comércio do pescado e do sal (Almeida, 1973). Era fundamental que a futura vila que iria capitanear a terra de Panoias se situasse sobre esta via.
 Carlos Alberto Ferreira de Almeida  defende também que, no sentido de Vila Real para Amarante, haveria uma ramificação do caminho na Campeã, em direção a Mondim de Basto e Guimarães (Almeida, 1973). Esta variante permitiria encurtar as distâncias entre a terra de Panoias e a terra de Basto, assim como com os importantes centros urbanos de Guimarães e Braga. O traçado que propomos para este ramo é pouco seguro e necessita de estudo mais aprofundado. Partindo da Campeã, este ramo divergiria da Via do Marão no lugar do Senhor da Boa Hora, onde existiu um cruzeiro com o mesmo nome, datado de 1768, para seguir pela povoação de Aveção do Cabo, subir ao Alto da Barra, descer para as povoações de Campanhó e Paço e transpor o rio Olo, próximo da localidade de Ponte d’Olo, ou, em alternativa, através da ponte da Várzea, próxima de Ermelo, que data do século XIII (Dinis, 2007, p. 88). Seguiria depois em direção a Vilar de Viande, onde atravessava o rio Cabril, através da ponte medieval que aí existe (Dinis, 2007, p. 107). Junto a esta ponte, na margem esquerda do rio, existe ainda um importante troço de via lajeado, muito bem preservado. A via continuava para Mondim de Basto, onde atravessava o rio Tâmega. Contudo, não são conhecidas provas da existência de uma ponte de pedra em Mondim anterior a 1530 (Dinis, 2007, p. 40). Esta ramificação da Via do Marão está representada a azul na figura. acima.
in Revista Oppidum, nº 10.

Ferrarias medievais em Mondim

Ferrarias:

(expressão de origem latina) eram “as oficinas em que obrão ferros”. Eram também as forjas, isto é, as oficinas de ferreiro, e os fornos grandes onde se derrete o ferro que vem da mina, sendo a mina de ferro, também e simultaneamente, a ferraria.

Estas pressupõem “a existência de um forno de fundição, de minério nas redondezas e de aproveitamento do ferro extraído para fins metalúrgicos, tais como a produção de bens essenciais necessários à vida das populações”.

Mário Custódio e G. Monteiro falam-nos da existência  de verdadeiros “distritos de ferrarias” onde se incluiria o das “Terras de Basto”. In “O ferro de Moncorvo”.

Por sua vez, Jorge Barrocas refere: “… uma densa mancha de ferrarias que se estendia pela área leste das terras de Celorico e por toda a Terra de Panóias, resultante da exploração da segunda mais importante jazida de ferro de todo o norte de Portugal, implantada nas faldas do Marão e estendendo-se para leste sob a forma de pequenos alvéolos e jazidas. Esta era, sem dúvida, a área de maior atividade mineira…) in: “As ferrarias medievais do norte de Portugal

Pelo que acima fica dito, impõe-se um estudo sério sobre a importância daquela indústria para a economia local durante a idade média, para mais sabendo nós que Vilar de Ferreiros se chamava antes S. Pedro das Ferrarias.

Nas inquirições de 1220, Em Mondim de Basto um único casal pagava ao monarca 54 ferros. A antiga paróquia de S. Pedro de Vilar de Ferreiros pagava 12 “mallios tortos de ferro et ij. Ij ferros de singulis palmis”.  Parece muito? Parece pouco?

Vamos continuar a explorar o tema. Acrescentaremos a bibliografia que nos parecer pertinente para desbravarmos este caminho do qual ainda sabemos tão pouco.

As Ferrarias em Mondim de Basto.

Sabemos que Mondim de Basto fica num dos 3 centros importantes de exploração mineira existentes em Tràs-Os-Montes. Se consultarmos as informações que constam nas inquirições concluimos que não são muito profundos os conhecimentos sobre o papel da mineração em Portugal durante os tempos medievais e o seu real peso no contexto da economia da época. A documentação coeva não abunda e a maior parte dos autores que, de uma forma directa ou em notas à margem de outras temáticas, se debruçaram sobre o assunto têm-se limitado a referi­­r os mesmos diplomas. Os registos são os seguintes:
 

S. Cristovão de Mondim (Mondim de Basto) 

1220- Inq.- As Inquirições dizem-nos que« ... habet ibi dominus R ex unum casale heremum, et dant de illo Liiij. (50) ferros .. . » (PMH, p. 51), acrescentando, para além do tributo ao monarca, aqueles que eram devidos ao Senhor da Terra e ao Mordomo:« ... et debent dare Domino Terre v. v .ferros et unum lego nem. Et maiordomo dant singulis mensibus ij. ferros et singulas mealas» (PMH, p. 136).

 

S. Pedro de Ferrarias (Vilar de Ferreiros, Mondim de Basto) 

1220- Inq.- « ... in ista collatione erant pauci de vetero, et habebant pro foro quod dabant de unaquaque dono xij. xij. mallios tortos de ferro, et ij. ij. ferros de singulis palmis ad quem levabat ipsos aliosferros ad cellarium; et si isti vel aliquis illorum vellet levare suos ferros ad cellarium non dabat istos ij. ferros. Et dabant omnes insimul unas teazes de balneo Domino Regi, et pectam vocem et calumpniam. Et modo tornarunt illos adforum quod dant singulos morabitinos, et v. v. ferros, et singulos legoes. (. .. ) Et sunt ibi due mulieres vidue, que dant ij. ij. ferros.» (PMH, p. 142).

 

Bilhó, Bobal e Ermelo (Ermelo e Bilhó, freguesias de Mondim de Basto; Boba!, de S. Salvador

 -Carta de Aforamento- Na carta de aforamento que Sancho I dá em Abril de 1196 aos povoados de Ermelo e Bilhó, refere-se « ... in primis de tis de unoquoque casali singulos morabitinos in ultima ldíel Maii per singulos annos et detis similiter de unoquoque casali sexferros .. . »

1220- Inq.- Em «Sancto Vicentio et Sancto Salvatore de Ermelo et de Oveloo», as Inq. de Afonso II dizem, ao reportarem-se a Oveloo: « .. . et in ipsa morantur modo xxij. homines, et habent pro foro quod illorum det in quocumque anno j. morabitinum et v .ferros etj.legom.»

 

1258 - Inq. - « ... e sabe que viij. casaes que an filhos de Dõ Gil Vaasquiz nas Fferrarias hu chamã oBovaal que e termho de Celorico casal que a Arrnoija queforã regeegos d'El e sabe Dõ Gil Vaasqiz filhou esses casaes aos pobladores d'El Reij de Quelhõo e de Ermelo .. . » (PMH, p. 1219).