Economia do território

 
 
 
Nos montes baldios (foto de "Objetiva em Movimento" de Bernardino Rodrigues)  estrutura-se um importante suporte desta economia e sociedade e também desta organização colectiva pelos matos, lenhas, pastos, águas, recursos florestais e minerais que fornecem. Os modos de apropriação e uso são muito variáveis, que podem estender-se por formas de apropriação privada já muito avançada (isto é, de repartição e agregação directa pelos casais e fazendas agrícolas) – ainda que sujeitas a constrangimentos e obrigações comuns –, como a formas mais extensas de uso comum e genérico a todos os membros da comunidade. Mas a propriedade e uso comum dos recursos estende-se também aos rios e ribeiros e também a algumas práticas de uso colectivo por sobre as propriedades privadas, dos campos e sobretudo das veigas, onde a livre pastagem, o compáscuo (a nossa «vaine pature»), se aplica em muitos casos, abrindo os campos, em regra, no fim das colheitas, à livre pastagem e circulação dos gados. Como estão ainda presentes em muitas terras direitos e usos comuns a certos espaços e produtos mais agrestes e silvestres (colheita de alguns frutos, como a castanha, usos e servidões como as das ervas dos valados). Por sobre o casal ergue-se o edifício das instituições jurídico-sociais que os conformam: o direito enfitêutico e demais direito e costume agrário, as instituições (com ou sem regimentos), das organizações dos trabalhos agrícolas, da repartição das limas e regas, dos roços, das vezeiras, de outros equipamentos colectivos, como os fornos, os moinhos, os animais reprodutores… Este é um quadro social naturalmente dominado e construído pelos proprietários e de entre estes, pelos cabeceiros e pessoeiros, que no essencial regulam esta economia à sua medida, atentando na sobrevivência de caseiros, cabaneiros, jornaleiros, artistas, pastores, que são também a base e suporte desta pequena economia e sociedade.
 
 
Em Mondim de Basto " faz-se aqui grande commercio com suas fabricas de couros e cordorões que exportava para todo o reino. Fabrica-se aqui muita cal"
e em resumo, milho grosso o mais abundante, e mais "todo o género de frutos" o centeio ainda domina numa ou noutra freguesia (Campanhó). O vinho é aqui largamente referido, todo verde de enforcado ou latadas. Nalguns casos bom, como é o de Vilar de Ferreiros, «admiraveis no seu genero, porque sendo dos que se dão em latadas nas árvores, são dos melhores desta qualidade» (Memória de Vilar de Ferreiros). Algumas referências também à cultura da castanha, ao azeite e ao linho. Para o Bilhó é dito que " é uma terra fértil, cria bastante gado de toda a qualidade e nos seus montes há bastante caça...". Em Atei, "esta freguesia cria muito gado miúdo e grosso e muita caça miúda...". Para Ermelo, " tem uma mina de estanho que se explora. É terra fértil, muito gado e bom vinho...". Paradança é "terra fertil.Gado e muita caça...". Pelo contrário Pardelhas "...é terra pobre e pouco fértil..". 
 
 
 As feiras anuais são, naturalmente, lugares e momentos de encontros mais desenvolvidos de gentes e produtos, em regra, associados às feiras das colheitas de Setembro e também às grandes romarias do dia do orago; por isso muitas delas realizadas no espaço ao redor ou na proximidade da igreja ou capela do santo(a). Franc

as – quanto mais não seja para os moradores dos termos – ou sujeitas às contribuições régias, (a sisa de correntes de feiras e as portagens alfandegárias) ou municipais.

Espigueiros.

Se durante muitos séculos a castanha, o centeio e o vinho foram a base da alimentação, à medida que o século XVIII avança alarga-se a área de exploração de novos produtos: azeite e milho. Em fins do Século XVIII, dizia Columbano R. de Castro que aqui se colhia toda a qualidade de frutos, os quais se exportavam para a província do Minho (MENDES, ob. cit: 504). A batata só quando já for adiantado o século XIX. Associados a estas culturas estão o surgimento dos lagares de azeite - no final do século XIX há vários em laboração (Azenha da Lage, em Atei)-, os canastros ou espigueiros para armazenamento do milho e as eiras em pedra, onde o mesmo era desfolhado. Estas obras vão ficar localizadas junto das habitações. Os espigueiros mais antigos datam de 1835. No que diz respeito à exploração florestal, as populações mantêm alguns castanheiros para fornecimento de frutos e madeira. Aliás, a castanha teve grande expressão nas aldeias serranas. Era consumida na sopa ou como substituto do pão. Ainda hoje as pessoas mais idosas de Ermelo nos lembram que até a davam aos porcos, nos anos em que a “fartura” era maior. Limoeiros e laranjeiras também eram cultivados embora com pouca importância económica. Naturalmente que os aspectos económicos preocupavam os representantes municipais. Isso vê-se pela leitura das actas das respectivas reuniões. Todos os meses os preços dos produtos essenciais eram fixados e vigiado o seu cumprimento. O milhão, o centeio, o vinho e o azeite são os quatro produtos que figuram em todas as actas. in: " Educação, Sociedade e DEsenvolvimento...." de Licínio Borges.

MEL

 
 
 
 

   Relacionando os dados arqueológicos identificados com as informações colhidas na

documentação antiga, na cartografia e no registo oral, chegamos à conclusão que a produção de

mel e cera terá tido um especial significado sócio-económico no município de Mondim de Basto,

talvez desde a Idade Média, ocupando largos sectores da população durante séculos. Neste

território, destaca-se pela quantidade de indícios uma parcela próxima da cordilheira do Alvão-

Marão, coincidente com o antigo concelho de Ermelo, região com relevo muito acidentado e

solos com fraca apetência agrícola, factores que terão determinado os modos de vida das suas

gentes e feito depender a sua sobrevivência da exploração de uma gama variada de recursos

onde se salientaram a pastorícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e

estanho, da metalurgia do ferro e da feitura de cal. A validação de Ermelo como espaço singular

de produções agro-silvo-pastoris e, particularmente, a sua fertilidade em “miel” é testemunhada

na obra “Población General de España”, escrita em 1695, onde lemos:"Villa de Ermelo está tres leguas de Villa-Real en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algun pan; com 150 vecinos e su parroquia: poblola el rei D. Sancho I. de Portugal año 1195" pag.484/485.

O peso que a apicultura terá tido no contexto das actividades produtivas encontra eco no “Livro de Usos e

Costumes da Igreja de Ermelo”, datado de 1707, o qual releva a obrigação dos fregueses

pagarem dízimo da cera, dos enxames e das colmeias que possuíam (Idem 2000, 259), encargo

que a nosso ver atesta, ainda para o século XVIII, o importante papel daquela actividade no

conjunto das receitas da igreja local.

Estranhamente, as Memórias Paroquiais de 1758 não fazem qualquer referência àquela

produção mas a relevância da apicultura na segunda metade do século XVIII e no século XIX

seria manifesta, como sugere a iconografia do brasão do município, com representação de oito

abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram. Por outro lado, a toponímia concelhia, que

regista entre outros nomes os de Muro, Lomba dos Muros, Muradal, Alto da Cilha de Cima,

Malhadas e Abelheira e a presença de tantos restos de muros-apiários, cujas dimensões

subentendem a protecção de milhares de cortiços, alguns deles com reconhecida longevidade

de utilização, parecem apontar no mesmo sentido. (excerto tirado da obra acima referida, pag.7).

 
 
 

   Relacionando os dados arqueológicos identificados com as informações colhidas na

documentação antiga, na cartografia e no registo oral, chegamos à conclusão que a produção de

mel e cera terá tido um especial significado sócio-económico no município de Mondim de Basto,

talvez desde a Idade Média, ocupando largos sectores da população durante séculos. Neste

território, destaca-se pela quantidade de indícios uma parcela próxima da cordilheira do Alvão-

Marão, coincidente com o antigo concelho de Ermelo, região com relevo muito acidentado e

solos com fraca apetência agrícola, factores que terão determinado os modos de vida das suas

gentes e feito depender a sua sobrevivência da exploração de uma gama variada de recursos

onde se salientaram a pastorícia, a recolecção e a apicultura, a par da mineração do cobre e

estanho, da metalurgia do ferro e da feitura de cal. A validação de Ermelo como espaço singular

de produções agro-silvo-pastoris e, particularmente, a sua fertilidade em “miel” é testemunhada

na obra “Población General de España”, escrita em 1695, onde lemos:"Villa de Ermelo está tres leguas de Villa-Real en una sierra fertil de fruta, miel, ganados, algun pan; com 150 vecinos e su parroquia: poblola el rei D. Sancho I. de Portugal año 1195" pag.484/485.

O peso que a apicultura terá tido no contexto das actividades produtivas encontra eco no “Livro de Usos e

Costumes da Igreja de Ermelo”, datado de 1707, o qual releva a obrigação dos fregueses

pagarem dízimo da cera, dos enxames e das colmeias que possuíam (Idem 2000, 259), encargo

que a nosso ver atesta, ainda para o século XVIII, o importante papel daquela actividade no

conjunto das receitas da igreja local.

Estranhamente, as Memórias Paroquiais de 1758 não fazem qualquer referência àquela

produção mas a relevância da apicultura na segunda metade do século XVIII e no século XIX

seria manifesta, como sugere a iconografia do brasão do município, com representação de oito

abelhas, tantas quantas as freguesias que o integram. Por outro lado, a toponímia concelhia, que

regista entre outros nomes os de Muro, Lomba dos Muros, Muradal, Alto da Cilha de Cima,

Malhadas e Abelheira e a presença de tantos restos de muros-apiários, cujas dimensões

subentendem a protecção de milhares de cortiços, alguns deles com reconhecida longevidade

de utilização, parecem apontar no mesmo sentido. (excerto tirado da obra acima referida, pag.7).

 

Centeio

 
 

A introdução do centeio nesta região, principalmente na área pertencente ao atual Parque Natural do Alvão,  terá sido efectuada pelos Suevos, do Norte da Europa, onde o clima é similar ao das montanhas portuguesas. Terá sido uma mais valia para as populações da parte mais transmontana do atual concelho de Mondim de Basto, havendo anos em que o excesso se vendia para a a região vinhateira do douro), tendo perdido a sua importância nos últimos anos já do século XX.
O centeio, como cereal típico das zonas serranas, de clima frio e agreste, é o cereal que se agarra melhor ao terreno e, apesar de cereal humilde mas resistente, em solos pobres e pouco profundos  era tão importante para as gentes, que o próprio bago já merecia o nome de “pão”.

 O centeio, cereal, carinhosa e respeitosamente apelidado pelas gentes locais de “pão” (porque cada baguinho representa a subsistência tão dura destas terras) é semeado em fins do Verão início do Outono, passa o Inverno e a Primavera na terra, e é colhido encerrando o ciclo, em pleno tempo quente, no Verão.

 …” Em Setembro é quando se semeia. E depois em fins de Julho é cortado e depois “emeda-se” (ata-se) em uns “molhinhos”, numas medas pequenitas, coloca-se num carro de bois. Fazia-se a “acarreja”. “Acarrejados” (trazidos) então da segada, juntam-se os molhes na eira, e com a malhada separa-se o grão de centeio da palha.

Antigamente, as mulheres, no dia anterior à segada, juntavam-se e, preparavam a palha usada para os bancelhos. Deslocavam-se ao rio e aí molhavam a palha, deixando-a mais maleável para ser dobrada Enquanto uns fazem os molhos, as mulheres, apanham o que fica na eira depois de batido o centeio. A eira é então varrida (“conhada”) com pequenas vassouras feitas de giesta e todo o grão (“pão”) que sobra é aproveitado. As espigas caídas durante a malhada são juntas e arranjadas em molhinhos, intitulados “coscos”, e que é alimento para os burros durante o ano.

Era uma época festiva. Havia sempre comida e bebida à disposição que o dono do campo providenciava, para manter alegre os seus ajudantes de lida, o que fazia com que o trabalho fosse acompanhado de cantorias e cantares ao desafio. O trabalho durava um mês, por vezes mais, e cada casa ou família, se ajudava entre si. Apenas os cabaneiros, mais pobres, eram trabalhadores pagos, recebendo ao dia ( jorna e alimentação), bem como espigas para o seu burro e alguma palha para a cama do porco, e ainda algum colmo para a sua casa.

As eiras, onde a palha é batida para retirar o cereal (na malhada), eram muitas vezes criadas pelo homem, que, à falta do espaço para o fazer engenhosamente o inventava. Curiosamente, para além das usuais eiras em laje de pedra,podiam-se encontrar também, nas aldeias nortenhas, as eiras feitas com bosta de vaca, guardada ao longo do ano e que era depois batida e alisada para quando seca, servir de base para a malhada, e também como fechamento da porta do forno.

 O forno, comunitário, onde as mulheres amassavam o “pão”, trabalhavam e moldavam a farinha até obterem uma bola que era benzida e ia para o forno de onde saía o pão. Cozia-se de 15 em 15 dias e o pão mantinha-se fresco nas “masseiras”, peça de mobiliário essencial.

 

Nota: Seguindo a tradição da colheita do centeio, no mês de julho, reúne-se o maior número de habitantes e também os emigrantes de visita aos familiares ( para além dos turistas, convidados a observar e participar), e recriam-se as diferentes fases da segada e da malhada. Não tendo a mesma finalidade de antigamente, este processo executa-se hoje, representando, como se de uma peça de teatro se tratasse, essas diferentes fases. Uma vez que o centeio já não é, actualmente, o cereal de eleição das terras altad de Mondim de Basto, na sua dupla função de alimento e cobertura vegetal, a encenação é meramente simbólica do seu aspecto artesanal.